Especial constelações indígenas (parte 10)

astronomia dos índios Brasil
Viaje pela esquecida astronomia indígena em nossa série especial!

A observação do céu sempre fez parte de culturas antigas, e claro que com os índios brasileiros isso não poderia ser diferente.

Assim como ocorre com a Astronomia ocidental, a Astronomia indígena também é muito extensa (e até mais complexa), afinal, estamos falando de várias etnias e culturas diferentes, e por isso, não teria como resumir tudo em um único artigo, por isso, nós do Galeria do Meteorito decidimos fazer uma série. Clique aqui para encontrar o índice e o link dos novos episódios.

Nesse décimo episódio vamos conhecer a maneira que os índios vêem o Sol, e saber da importância que ele representa para os índios brasileiros, como para a contagem do tempo. Confira!


Sol

Povo: Tupi-Guarani                   Povo: Tembé-Tenetehara                 Povo: Bororo
Guaraci (ou Quaraci)                 Kwarahy                                             Méri
o Sol dos índios
O Sol também é visto da forma masculina entre os índios. Assim como para outros povos antigos, o Sol era (e ainda é em algumas tribos) visto como um grande deus, afinal, é o Sol que dá a luz, fornece as condições necessárias para o cotidiano de todos, e principalmente, o Sol é o astro responsável pela vida na Terra. É de acordo com o caminho traçado pelo Sol que os índios enterram seus mortos, constroem a casa do Cacique e descobrem a época do ano, assim como o horário do dia.

O Sol descreve dois movimentos aparentes, que é o diário (leste-oeste) e outro na linha do horizonte, a cada dia mais ao sul ou ao norte. Ao observar esses movimentos, os índios sabem a hora do dia (movimento leste-oeste) e as estações do ano (posição mais ao norte ou ao sul durante a alvorada e o ocaso).

Como a região sul do céu é mais rica em estrelas, a frente da casa dos caciques fica voltada para o sul. Para os índios Tembé-Tenetehara, o surgimento do Sol no horizonte leste é chamado de Kwarahy-Hem-Haw (Sol do início do dia), e no final do dia, quando se põe à oeste, é chamado de Kwarahy-Wixw-Haw (o Sol que encerra o dia).

O Sol nasce sempre no lado leste do céu, porém não é correto afirmar que isso ocorre sempre na mesma posição. Esse fato é conhecido pelos índios que observam esse deslocamento sutil do Sol, e por isso, conhecem as estações do ano. No início da estação seca, ele surge e desaparece mais ao norte, e no início da estação das chuvas, o Sol nasce e se põe mais para os lados do Sul. Ou seja, apenas observando a posição da alvorada e do ocaso do Sol, os índios identificam o início e o fim das estações do ano. Para perceber essa mudança sutil, eles utilizam árvores ou pedras para marcar as posições dos astros de acordo com um determinado ponto de vista.


As estações do ano (Tembé-Tenetehara)

Kwarahy - seca
Aman - chuva

Kwarahy, além de ser o nome do deus Sol, é o nome da estação seca para os índios Tembé-Tenetehara. Essa estação se inicia próximo do dia 21 de junho. Já Aman (estação das chuvas), inicia-se por volta do dia 21 de dezembro.


Gnômon
Gnomon - relogio solar indigena
Desde a antiguidade, gregos, romanos, e vários outros povos também utilizavam esse dispositivo para marcar o tempo nos dias ensolarados. Observando a sombra da haste de madeira projetada no chão, podemos saber a duração do dia, os períodos matutino e vespertino (separados pelo meio-dia), além de determinar os pontos cardeais.

Os índios Tembé-Tenetehara utilizam o gnômon, que é basicamente uma haste a 90° em relação ao solo, em local aberto, para que a luz do Sol faça com que a sobra da haste projetada no chão indique o horário do dia. A eclíptica (movimento que o Sol descreve no céu) é conhecido pelos Tembé-Tenetehara como Kwarahy-Kamy (caminho do Sol).


Horas do dia (Bororo)

Merirutu tabo
O nascer do Sol

Meri dieta pagogwa kejede tabo
O Sol está no nível da boca
Logo após o nascer do Sol

Meri paidiaka kejede tabo
O Sol está no nível dos olhos
De manhã cedo

Meri dieta pagudo kejede tabo
O Sol está no nível da testa
Do meio da manhã até antes do meiodia

Meri dieta pagaia kejede tabo
O Sol está em cima da cabeça
Meio-dia

Meri terawuji pagawora diokido tabo
O Sol está em nosso cangote (Sol atrás da cabeça)
Primeiras horas da tarde

Meri diati pagabara kejede tabo
O Sol está no rumo do nosso cangote
Meio da tarde

Meri diati pagidoru kejede tabo
O Sol já está no pescoço
Meio pro Fim da tarde

Meri rekodu tabo
Já correu o Sol
Fim da tarde

Meributu tabo
Pôr-do-Sol


Além de estar presente em mitos e lendas, podemos perceber que o Sol era (e ainda é) muito observado pelo índios brasileiros, e tem um papel fundamental em seus métodos de contagem do tempo, servindo ainda como guia para criações, construções e trabalhos feitos na aldeia.


Gostou? Confira nossa lista de episódios, afinal seria impossível resumir toda a astronomia indígena em apenas uma matéria... Boa leitura!

Fonte: Cuabamorandu / Germano Bruno Afonso / Observatórios Virtuais / Vitae / Melissa Oliveira (antropóloga) / Aikewara.blogspot / ISSUU / Planetário  UFSC (etnoastronomia) / pib.socioambiental.org / Osvaldo dos Santos Barro / Universidade Federal do Pará / Aldeia Teko Haw / Flavia Pedroza Lima / Planetário do Rio de Janeiro / Diones Charles Costa de Araújo (DF) / Melissa Oliveira (antropóloga)
LIMA, Flavia P. (2004), Observações e descrições astronômicas de indígenas brasileiros - A visão dos missionários, colonizadores, viajantes e naturalistas. Dissertação de Mestrado em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ.
LIMA, F. P. e Moreira, I. C. (2005), “Tradições astronômicas tupinambás na visão de Claude d’Abbeville”, Revista da SBHC, 3, 4-19.

LIMA, Flavia P. (2012), “A Astronomia Cultural nas Fontes Etno-Históricas: A Astronomia Bororo” in I Simpósio Nacional de Educação em Astronomia, Rio de Janeiro, Atas do I SNEA, 1, São Paulo: SAB.
15/04/15

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3 comentários:

  1. Parabéns pelo site! Parabéns por cita a cultura astronômica indígena brasileira, essa tão pouco explorada no Brasil. Agradeço por ter me citado como fonte. Abraços astronômicos
    Diones Charles

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Diones Charles! É um grande prazer receber seu comentário em nosso site, sobretudo em nossa série especial da Astronomia Indígena. Além disso, nós é que devemos agradecê-lo, afinal, seus estudos e pesquisas ajudaram imensamente na divulgação e propagação dessa cultura tão rica. Um grande abraço, e muito obrigado! Ficamos muito contentes com sua participação!

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  2. Parabéns pelo site! Parabéns por cita a cultura astronômica indígena brasileira, essa tão pouco explorada no Brasil. Agradeço por ter me citado como fonte. Abraços astronômicos
    Diones Charles

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