A vida na Terra aparece em lugares surpreendentes. Ela já foi encontrada em respiradouros de alta temperatura nas profundezas dos oceanos e até na nossa atmosfera. Mas ainda estamos tentando aprender mais sobre esses chamados "extremófilos". Os pesquisadores estão agora ponderando quão bem a vida pode se reproduzir nesses ambientes. Além disso, poderiam micróbios deste tipo ser encontrados em outros mundos?
Em março, um grupo de estudantes da Universidade de Houston realizou uma experiência de altitude no Alasca, para entender como os micróbios poderiam sobreviver entre 18 km e 50 km de altitude. O instrumento, que se parece quase com um pequeno cesto de roupa, abre-se para coletar o que há na atmosfera.
"Muitas vezes, esses micróbios quando estão lá em cima, eles não estão se replicando e não estão metabolicamente ativos", disse Jamie Lehnen, estudante do quarto ano na equipe. "Estou interessada em entender como é a resposta desses micróbios ao estresse, e qual a semelhança com aqueles que vivem aqui, na superfície da Terra."
Balão para estudo de vida na alta atmosfera.
Créditos: NASA
Alguns dos primeiros experimentos de microorganismos de alta altitude não envolveram viagens aéreas. Charles Darwin pegou poeira africana em seu navio enquanto cruzava o Oceano Atlântico, enquanto Louis Pasteur fazia medições em cima de glaciares alpinos. Ambos encontraram microorganismos.
Dito isto, a pesquisa de microorganismos na atmosfera superior tem estado ativa desde os anos 30, pelo menos. Um dos primeiros vôos envolveu Charles Lindbergh, um piloto mais conhecido por pilotar o solo Atlântico em 1927. Acompanhado de sua esposa, Lindbergh periodicamente passava o controle da aeronave para que pudesse coletar amostras. A equipe de pesquisa encontrou esporos de fungos e grãos de pólen, entre outros espécimes.
Aviões ainda exigem uma quantidade substancial de atmosfera para voar, por isso é que balões de alta altitude e foguetes são mais utilizados atualmente para realizar esses estudos, já que alcançam até a estratosfera e a mesosfera. De acordo com o pesquisador microbiano da NASA, David Smith, alguns dos trabalhos pioneiros neste campo foram feitos na década de 1970, particularmente na Europa e na União Soviética. "Tudo o que fizeram foi fascinante, mas não houve muito trabalho de acompanhamento para validar os resultados."
Ilustração mostra as camadas da atmosfera terrestre, sua devidas altitudes e temperaturas.
Créditos: divulgação
Existem dúvidas se esses primeiros resultados são válidos, uma vez que os protocolos de contaminação podem não ter sido rigorosos. Por conta disso, David Smith e outros pesquisadores estão tentando descobrir quais tipo de micróbios vivem acima da Terra, e por quanto tempo. A equipe de Smith irá voar com a equipe da NASA ABoVE (Experiência de Vulnerabilidade Ártico-Boreal), que usa um jato Gulfstream III para monitorar como a mudança climática afeta os animais, as plantas, o meio ambiente e a infra-estrutura. No primeiro semestre do ano, uma vasta corrente de ar no Oceano Pacífico move milhões de toneladas de poeira através do oceano, principalmente da Ásia.
"Queremos saber que tipo de microorganismos estão fazendo esse salto através do oceano, co-transportados com espécies de aerossóis", disse Smith. "O Alasca nos permitirá uma oportunidade para testar a hipótese da ponte atmosférica, que, simplesmente falando, é o que os continentes espirram uns nos outros".
A Terra vista do espaço, através da Estação Espacial Internacional.
Créditos: NASA
David Smith é cético quanto ao desenvolvimento e reprodução de microorganismos em altitudes tão altas, já que trata-se de um ambiente frio e seco. Mas ele diz que os microorganismos podem ser persistentes. "Ninguém conseguiu medir quanto tempo os microrganismos podem permanecer na estratosfera; há trabalhos que ainda precisam ser feitos".
"Os microorganismos podem alcançar níveis mais altos da troposfera, acima de cerca de um quilômetro; podem permanecer suspensos no ar por cerca de uma semana, e podem viajar milhares de quilômetros através de correntes de vento", disse Tina Santl-Temkiv, professora assistente da Universidade de Aarhus. "Eventualmente, eles caem de volta na superfície através de chuvas ou simplesmente devido à gravidade."
Se a atmosfera da Terra é um ótimo lugar para a vida prosperar, isso indicaria que poderia haver implicações similares em outros mundos, como Vênus. Na década de 1960, o astrônomo e cientista popular Carl Sagan sugeriu que a atmosfera superior de Vênus poderia abrigar os descendentes de organismos que poderiam ter evoluído na superfície do planeta quando ele era mais frio.
Através da luz ultravioleta (como visto aqui pela missão Venus Express), podemos perceber manchas escuras
na atmosfera de Vênus. Essas manchas absorvem luz ultravioleta, e segundo indícios, poderia ser
algum tipo de vida na alta atmosfera. Mais estudos são necessários para confirmar tal teoria.
Créditos: ESA / MPS / DLR / IDA
"Vênus e Terra foram semelhantes por 3 bilhões de anos e talvez até recentemente cerca de meio bilhão de anos atrás", disse a Dra. Lynn Rothschild, astrobióloga da NASA e bióloga sintética que está na equipe de pesquisa de David Smith. Ela disse que isso inclui oceanos líquidos, atmosfera semelhante e, provavelmente, os mesmos tipos de minerais e compostos orgânicos.
Mas se existe vida na atmosfera de Vênus, ela não teria uma boa experiência ao retornar para sua superfície. O Sol ficou mais luminoso à medida que o Sistema Solar envelhecia, evaporando a água dos oceanos de Vênus. O vapor de água, agora na atmosfera, contribuiu para dar a Vênus um infernal efeito estufa em sua superfície.
Parece que a vida é resistente, mas não sabemos se ela é capaz de sobreviver a altas altitudes. Se isso for verdade, talvez tenhamos que criar proteções especiais para as missões que coletam amostras da atmosfera de outros mundos, afinal de contas, poderíamos prejudicar algum tipo de vida. De qualquer forma, devemos aguardar os resultados de novos estudos, pois só assim teremos uma dica se a vida realmente pode prosperar em grandes altitudes, seja aqui na Terra ou em outros planetas...
Imagens: (capa-NASA) / NASA / divulgação / ESA / MPS / DLR / IDA
30/01/17
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Muito boa a matéria. Realmente há uma possibilidade muito grande de organismos viverem em regiões de alta altitudes.Aqui em nosso planeta são encontrados extremófilos em regiões remotas, como vulcões, em hidrotermais oceânicos, entre outros. Em meteoros, cometas, podem transportar vida, ou elementos essenciais para a formação da mesma. Somos feitos de estrelas.\o/
ResponderExcluirExcelente matéria. Para mim, no que diz respeito a microorganismos, as condições para o surgimento desse tipo de vida são as mais variáveis possíveis, e nos mais diversos tipos de lugares do universo. Já para a vida inteligente, ai as possibilidades são bem mais restritas.
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