Novo mapa da poluição luminosa revela algo assombroso

mapa da poluição luminosa
De acordo com o novo atlas, cerca de um terço da humanidade não consegue mais observar a Via Láctea


O novo atlas da poluição luminosa é o resultado de mais de 10 anos de observações e dados coletados via satélites. O estudo foi publicado na revista Science Advances, e descreve o rápido aumento na poluição luminosa, que é uma poluição pouco conhecida, porém, afeta todo o eco-sistema, a saúde dos seres-humanos, e claro, a vida como um todo. O projeto apresenta ainda algumas maneiras de reduzir os impactos causados pela poluição luminosa na Terra.

"Claro, há uma conexão direta entre o desenvolvimento de um país e a poluição luminosa", disse o autor do estudo, Fabio Falchi, do instituto Light Pollution Science and Technology, na Itália. "Mas isso não é uma lei natural, pois o estudo sugere como utilizar a luz e poluir muito menos."

"É um trabalho fenomenal", comenta Richard Wainscoat, astrônomo da Universidade do Havaí. "Acredito que todos estavam aguardando por isso, há muito anos." Richard não é integrante desse novo estudo, mas já foi presidente da União Astronômica Internacional, que também trabalha para preservar regiões de céu escuro ao redor do globo.




O atlas da poluição luminosa permite que os pesquisadores escolham locais remotos, com céus escuros. Cairo é uma das regiões com a maior poluição luminosa do planeta, segundo Fabio. Outras áreas muito ruins são: Bélgica, Holanda, Alemanha e o norte da Itália. As regiões entre as cidades de Boston e Washington, nos EUA, também são muito poluídas, assim como outras áreas do nordeste norte-americano, como Nova York. Segundo os pesquisadores, habitantes de alguns países como Singapura, por exemplo, nunca experimentam um céu verdadeiramente escuro. A visão dessas pessoas provavelmente nunca se adaptam ao escuro... e a Europa não fica atrás...

mapa da poluição luminosa - Europa
Mapa da poluição luminosa - Europa. Créditos: Esri / HERE / DeLorme / NGA / USGS

No Brasil não é diferente. As grandes metrópoles são os locais mais afetados pela poluição luminosa, com São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Salvador no ranking dos piores lugares para se ver as estrelas, respectivamente. Os únicos lugares onde as estrelas e a Via Láctea são visíveis durante a noite são justamente aqueles que não são densamente habitados.

mapa da poluição luminosa - Brasil
Mapa da poluição luminosa - Brasil. Créditos: Esri / HERE / DeLorme / NGA / USGS

A Índia, assim como a Europa, está praticamente toda tomada pela poluição luminosa, e apenas algumas poucas regiões pequenas têm acesso aos céus escuros...

mapa da poluição luminosa - Índia
Mapa da poluição luminosa - Índia. Créditos: Esri / HERE / DeLorme / NGA / USGS


Por outro lado, existem muitas áreas ao redor do globo que ainda possuem céus escuros, como o norte do Chile, Havaí, e Ilhas Canárias. Grande parte da África, onde os desertos são imensos e a população é baixa, também oferecem condições ideais para observações do céu, mas é possível que ao olhar para o horizonte vejamos resquícios de luz de outras áreas vizinhas.


Os pesquisadores disponibilizaram o mapa da poluição luminosa interativo online, hospedado pela Universidade do Colorado, nos EUA. Em breve, um livro será lançado para ajudar na divulgação dessas informações.


O impacto da luz

A poluição luminosa não só inviabiliza boas observações do céu noturno, como também faz mal à saúde, confundindo o ritmo cardíaco a contribuindo para disfunções do sono, o que impede a produção de melatonina.

Existem diversos estudos que comprovam que os efeitos da poluição luminosa afetam as tartarugas marinhas, a migração de pássaros, traças e morcegos. As estatística mostram que 60% dos invertebrados e 30% dos vertebrados são noturnos, portanto, esses animais estão tendo sérios problemas durante as noites claras.

poluição luminosa - animais mais afetados
Gráfico mostra percentagem de animais afetados diretamente pela poluição noturna.
Créditos: F. Hölker   /   Tradução: Richard Cardial

O novo mapa da poluição luminosa é como um "pedido de ajuda" para toda a sociedade, e também para os astrônomos. "As pessoas têm o direito de olhar para o céu e ver as estrelas, e assim, entender o nosso lugar no Universo", disse Richard. "Se as pessoas não conseguem mais ver a Via Láctea ou as estrelas, elas perdem o interesse na Astronomia, e não se perguntam sobre o nosso lugar no Espaço."




Richard Wainscoat enfatiza que o crescimento da poluição luminosa é de aproximadamente 5 a 10% por ano. Os efeitos são graduais, porém o impacto ao longo de 10 ou 20 anos é desastroso. "Não precisa ser assim. Existe uma tremenda quantidade de luz instalada de forma irresponsável ao redor de todo o globo. Tudo é baseado em lucro e dinheiro, e não no meio-ambiente", completou.


Combatendo a poluição luminosa

Para restaurar os céus escuros do nosso planeta não basta apagar as luzes não utilizadas, mas sim utilizar sistemas que poupem a dispersão de luz para cima, e que sejam apenas suficientes para iluminar um ambiente de forma agradável, e não exagerada. Devemos também evitar luzes de LED azuis, pois ela se dispersa muito mais do que a luz amarela, além de ser mais danosa à saúde.

Via Láctea sobre os pináculos da Austrália
Via Láctea sobre os pináculos da Austrália. Créditos: APOD / Michael Goh
Clique na imagem para ampliar

Paul Bogard, autor do livo "The End Of Night: Searching For Natural Darkness in an Age of Artifical Light" (O Fim da Noite: Em Busca de Escuridão Natural da Era da Luz Artifical), descreve alguns métodos em seu livro.

"Ninguém está dizendo que não devemos ter luzes durante a noite, Esse não é o ponto. O fato é que estamos usando muito mais do que precisamos, numa quantidade prejudicial para o meio-ambiente, desperdiçando dinheiro, e ficando mais vulneráveis do que acreditamos", escreve Paul. "Acreditamos que quanto mais luz, melhor, mas não é verdade."




O novo atlas da poluição luminosa nos fornece a visão mais completa do impacto em uma escala global. O estudo também deve ajudar a medir o efeito da diminuição da poluição luminosa e identificar regiões que precisam de medidas emergenciais.

A maioria das crianças, principalmente as que nascem nos EUA ou na Europa, não fazem ideia do que estão perdendo. Algo tão comum e natural, como olhar para o céu noturno, já se tornou uma tarefa árdua... Estamos bloqueando o brilho tênue das estrelas com o lampejo da ganância e da prepotência, revelando uma nova realidade escura e sombria...






Imagens: (capa-ilustração) / Esri / HERE / DeLorme / NGA / USGS / F. Hölker / Richard Cardial / APOD / Michael Goh
19/07/16


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12 comentários:

  1. A Humanidade poule mais e mais... Nos realmente devemos sair desse rumo de auto-destruição se queremos conquistar o espaço, a ultima fronteira...

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  2. Pô, adoro o site aqui, mas esses anúncios que ficam aparecendo "Notícias de Celebridades: Damos adeus à Ana Maria Braga" é pra acabar hein? :-p

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    Respostas
    1. Eustáquio, eu concordo que os anúncios são um incômodo, mas é uma das formas do site de se manter, através da receita gerada nas propagandas
      Sobre ser de celebridades, isso está ligado a seu histórico no navegador rsrs

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  3. Que matéria legal!
    Parabéns galeria do Meteorito :)

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    1. Que bom que você gostou Andrei_o/
      Muito obrigado pelo elogio :) Ficamos muito contentes!
      Abraços!

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  4. Parabéns pela magnífica, maravilhosa, culta, erudita e útil reportagem. E O LUGAR DELA É NAS ESCOLAS!!! SABIAM?? Pois é. Quem aí da novíssima geração já viu um planeta ou estrela se não no quadro-negro ou casualmente na manchete da internet ou TV? Ahh não! Preferem videogame, redes sociais (ECA!!) ou choram pela morte de uma pessoa rica (como também lemos no embutido publicitário do anúncio inútil!). Se é pobre... que abiche! Bem, pelo menos os países de 3º mundo ainda tem um céu límpido. O de primeiro mundo, só a Austrália mesmo, mostrada aqui. Ahhh Austrália... eu queria ser um canguru para pular por cima das barbaridades sociais e dos escândalos e roubalheiras, para enfim, alcançar um lugar no céu estrelado e observá-lo em paz!

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  5. Eu moro em uma cidade pequena e quase não vejo a Via Láctea, imagine para quem mora nas capitais.

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  6. Obrigado pessoal! Essa informação é muito util. Quem sabe o governo,ou melhor, os governos acordem pra essa realidade, e façam algo a respeito. O céu é o direito mais básico na vida de qualquer ser vivo, mas estamos aos poucos o perdendo...

    Abraços pessoal!

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  7. Aqui na capital paulista, um cidade com 12 milhões de pessoas, é impossível de ver a via láctea,entre outras coisas. Além da poluição luminosa, por aqui também temos a agravante da poluição atmosférica. Mesmo em dias em que o ar está mais limpo, só podemos observar algumas estrelas.
    Devido à essa grande concentração de luz, conseguimos ver sem tantos problemas todos os tipos de nuvens, seja baixa ou média e inclusive as altas como os cirros. Quando temos uma noite nublada (principalmente por nuvens mais baixas), o céu adquire uma tonalidade bem clara e acreditem, clareia um poucos locais que não possuem nenhuma iluminação.
    Infelizmente quando houveram aqueles apagões como em março de 1999 e novembro de 2009 estávamos com tempo nublado e eram justamente nessas oportunidades que os moradores de Sampa pudessem ver bem melhor o céu.

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  8. Eu moro em Guarulhos, em uma região bem povoada, porém ainda consigo ver muita coisa, inclusive um tênue brilho no centro da Via Láctea.

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