Já fazem mais de quarenta anos desde que a última missão Apollo levou astronautas à Lua. Agora, várias agências espaciais planejam lançar missões tripuladas ao nosso satélite natural, até mesmo a própria NASA. A Agência Espacial Europeia planeja criar uma base na Lua, enquanto os chineses e russos pretendem colocar seus primeiros exploradores na superfície lunar.
Por conta disso, diversas pesquisas dedicadas a esse assunto têm sido publicadas nos últimos anos, a fim de garantir a boa saúde física e mental dos astronautas que irão explorar o espaço em missões de longa duração. Mas agora, um estudo recente feito por uma equipe de farmacologistas, geneticistas e geocientistas revelou algo assombroso: expor astronautas à poeira lunar pode ser fatal!
O estudo foi intitulado "Avaliação da toxicidade e dano ao DNA nuclear e mitocondrial causado pela exposição de células de mamíferos aos Simuladores do Regolito Lunar", e foi publicado recentemente na revista GeoHealth. Ele foi conduzido por Rachel Caston, pesquisadora de pós-doutorado da Escola de Medicina da Stony Brook University, e incluiu membros do Departamento de Ciências Farmacológicas da Stony Brook e do Departamento de Geociências.
Por não ter atmosfera, a superfície da Lua é atingida com muita frequência por meteoritos, o que cria uma fina camada de poeira conhecida como regolito. Além disso, a Lua é atingida constantemente e diretamente pelo vento solar, que deixa o solo lunar carregado eletrostaticamente, fazendo com que sua poeira seja aderida pelos trajes espaciais, por exemplo. É como uma poeira que se prende a tudo, como um imã. Imagine os efeitos disso nos pulmões?!!
Astronauta Harrison Schmitt coleta amostras do solo lunar durante a amissão Apollo 17 em 1972.
Créditos: NASA
As missões Apollo já indicaram que a poeira lunar poderia causar problemas sérios de saúde. Os astronautas que pisaram no solo lunar trouxeram amostras que ficaram agarradas em seus trajes espaciais, e depois de inalar a poeira, o astronauta Harrison Schmitt, da missão Apollo 17, teve sintomas de febre, espirros, olhos lacrimejantes e dor de garganta.
Apesar dos sintomas terem sido de curta duração, os pesquisadores acreditam que isso pode afetar a saúde dos astronautas a longo prazo. Pesquisas que mostram os danos causados pela inalação de poeira de erupções vulcânicas, tempestades de poeira e minas de carvão também apoiam a ideia de que a poeira lunar seria altamente danosa para os pulmões de quem a respira, causando cicatrização do tecido pulmonar.
Outras pesquisas também mostraram que a inalação da poeira lunar pode causar danos ao DNA das células, gerando mutações e até mesmo causando câncer.
Sabendo disso, Rachel e seus colegas colocaram células do pulmão e do cérebro de ratos expostas ao solo lunar. Eles utilizaram amostras de poeira da Terra que se assemelham aquela encontrada na superfície da Lua, e descobriram que 90% das células dos pulmões e dos neurônios morreram após exposição às amostras de poeira, que também causaram danos ao DNA.
Astronauta da missão Apollo 12 Charles Conrad refletido no visor de Alan Bean durante visita a Lua em 1969.
Créditos: NASA
Os resultados mostram que respirar poeira lunar (mesmo em quantidades mínimas) pode representar um sério risco à saúde dos astronautas. Isso inclui não apenas a Lua, mas também outros corpos terrestres que não têm atmosfera considerável, como Marte e Mercúrio. Até agora, esse risco à saúde tem sido negligenciado pelas agências espaciais que buscam compreender os riscos de longo prazo da viagem espacial.
"Há riscos para a exploração extraterrestre, tanto lunar quanto além, mais do que apenas os riscos imediatos do próprio espaço", disse Rachel Caston. De acordo com Bruce Demple, bioquímico da Escola de Medicina da Universidade Stony Brook e autor do novo estudo, seus resultados (juntamente com a experiência dos astronautas da Apollo) indicam que a exposição prolongada à poeira lunar pode prejudicar a função pulmonar e das vias aéreas, podendo até ser fatal para a vida.
Ou seja: qualquer tentativa de missões tripuladas à Lua, Marte e além, terá que levar em consideração a exposição não apenas à baixa gravidade e a radiação, mas também ao solo eletrostaticamente carregado.
Uma possível saída seria fazer com que os astronautas tenham que passar por uma eclusa de ar que também borrifaria seus trajes com água, a fim de retirar qualquer resquício de poeira e evitar que ela entre em uma base, por exemplo. Caso contrário, mesmo estando dentro de uma base lunar, os astronautas teriam que usar máscaras de respiração o tempo todo, mesmo sem os trajes espaciais, até pra dormir...
Imagens: (capa-divulgação) / NASA
08/05/18
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