Graças a centenas de terremotos conseguimos enfim conhecer as profundezas do
Planeta Vermelho
A sonda InSight da NASA passou muitos anos em Marte com seus sensores
atentos ao solo tentando detectar o que acontece sob a superfície do Planeta
Vermelho. Seus sofisticados sismômetros gravaram centenas de terremotos em
Marte, que alguns pesquisadores da NASA chamaram de Marsquakes, que
traduzido para o português seria algo como "Martemotos".
Esses dados da InSight foram usados para conseguirmos medidas precisas do
interior de Marte pela primeira vez, como nunca fizemos antes. Três
trabalhos científicos diferentes se concentraram na crosta, no manto e no
núcleo de Marte, e foram divulgados em 3 artigos distintos na Revista
Science.
"Nós podemos agora restringir a espessura da crosta no local de pouso, com
medidas sismológicas pela primeira vez, e junto com informações prévias de
gravidade e topografia, podemos mapear a espessura da crosta ao redor de
todo o planeta Marte. Isso é algo que os pesquisadores estavam esperando por
décadas", disse a Dr Brigitte Knapmeyer-Endrun, da Universidade de Cologne,
que é uma das autoras principais do estudo.
Os time de cientistas destacou como as informações suportam 2 modelos: ou a
crosta pode ser fina e composta de 2 camadas, com a parte superior porosa
quimicamente alterada e a mais profunda com composição mais preservada, ou
poderia até ter 3 camadas.
Ilustração artística mostra ondas sísmicas movendo se de Cerberus Fossae,
ricocheteando no núcleo
e voltando para serem detectadas pela sonda InSight.
Créditos: Chris Bickel / Science
No 1º cenário a crosta nessa região poderia ser mais fina que o esperado,
com cerca de 20 km, no 2º cenário poderia ter o dobro disso, ou seja: 40km.
Globalmente, os especialistas consideram que a crosta tenha algo entre 24 e
72 km, sendo rica em elementos radioativos que poderiam aquecer um pouco
essas regiões.
O time também reportou uma espessa litosfera que compõe a parte mais externa
do planeta, com cerca de 500km. Isso também explicaria por que Marte, ao
contrário da Terra (e talvez até de Vênus), pode nunca ter tido placas
tectônicas.
Já nas profundezas do planeta, parece haver um manto composto de uma única
camada, o que também é bem diferente do que temos em Vênus e na Terra.
"Martemotos" de baixa frequência nos permitiram examinar até cerca de 800 km
abaixo da superfície. E de acordo com esses dados, o manto de Marte parece,
até certo ponto, similar ao da Terra.
A InSight ainda revelou que o núcleo do Planeta Vermelho parece ser muito maior do
que se acreditava antes, com um raio de 1.830 km, e também confirmou que o
núcleo é líquido, o que já era cogitado, mas nunca tinha sido comprovado.
Os dados também mostram uma surpreendente composição para a região mais
interna de Marte, que parece ser menos massivo do que o esperado, sugerindo
que dentro do ferro fundido e do níquel, também possam existir elementos
mais leves que reduzem sua densidade.
"Isso é algo que restringiria muito a formação de Marte. Para o planeta ter
acumulado essa grande quantidade de elementos leves como enxofre, carbono,
oxigênio e hidrogênio em seu núcleo, ele deve ter se formado muito cedo,
talvez até quando a nebulosa solar ainda existia. Este não é o caso da Terra
que se formou mais tarde", disse o outro autor principal do estudo, Dr. Amir
Khan, do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça.
De qualquer forma, mesmo com essas novas descobertas, outras dúvidas ainda
permanecem, como por exemplo:
- Qual é a causa dos fortes terremotos detectados pela sonda InSight na região de Cerberus Fossae?
- Marte realmente tem um núcleo interno sólido menor?
Estas são perguntas que ainda movimentarão os cientistas por bastante tempo,
e a sobrevida da sonda InSight pode revelar novas pistas sobre esses
mistérios.
Imagens: (capa-ilustração) / Chris Bickel / Science / InSight / NASA /
divulgação
22/07/2021
Gostou da nossa matéria?
Inscreva-se em nosso canal no YouTube
para ver muito mais!
Encontre o site Galeria do Meteorito no Facebook, YouTube, Instagram, Twitter e Google+, e fique em dia com o Universo Astronômico.
Que legal, Marte mais velho que a Terra.
ResponderExcluir