Conseguimos simplesmente as melhores imagens do intrigante asteroide
Cleópatra!
Com o auxílio do Very Large Telescope (VLT) do ESO, uma equipe de astrônomos
conseguiu as imagens mais nítidas e detalhadas do asteroide Cleópatra. As
observações permitiram que a equipe determinasse a forma tridimensional e a
massa desse asteroide que se parece com um "osso de cachorro".
"Cleópatra é realmente um corpo único do nosso Sistema Solar", diz Franck
Marchis, astrônomo do Instituto SETI em Mountain View, EUA, e do Laboratoire
d'Astrophysique de Marseille, França, que liderou este estudo sobre o
asteroide que possui duas luas e uma forma incomum. O estudo foi publicado
hoje na revista Astronomy & Astrophysics.
"O estudo de objetos estranhos faz avançar bastante a ciência e eu penso que
Cleópatra é precisamente um destes objetos, por isso entender este sistema
múltiplo e complexo de asteroides pode nos ajudar a compreender melhor o
nosso Sistema Solar", completou Franck.
Laser lançado a partir de Yepun - um dos telescópios de 8,2 metros do VLT
- para criar
uma estrela artificial que auxilia o sistema de Ótica Adaptativa do VLT.
Créditos: ESO / G. Hüdepohl
O asteroide Cleópatra orbita o Sol no Cinturão de Asteroides, entre Marte e
Júpiter. Os astrônomos o chamam de "asteroide de osso de cachorro" desde que
observações por radar, obtidas há cerca de 20 anos, revelaram que este
objeto possui dois lóbulos ligados por um "pescoço" grosso. Em 2008, Marchis
e seus colegas descobriram que Cleópatra tem duas luas, chamadas AlexHelios
e CleoSelene, em homenagem aos filhos da rainha egípcia.
Para saberem mais sobre Cleópatra, Marchis e a sua equipe usaram fotografias
do asteroide tiradas entre 2017 e 2019 em momentos diferentes, com o
instrumento SPHERE (Spectro-Polarimetric High-contrast Exoplanet REsearch)
montado no Very Large Telescope (VLT) do ESO.
À medida que o asteroide ia girando sobre o próprio eixo, foi possível
observá-lo a partir de diversos ângulos e criar os modelos 3D mais precisos
de sua forma até o momento. Estes modelos mostraram que um dos lóbulos é
maior que o outro, e também descobrimos seu comprimento de 270 km.
Comparação do asteroide Cleópatra com o norte da Itália.
Créditos: ESO / M. Kornmesser / Marchis et al
Em um segundo estudo, também publicado na Astronomy & Astrophysics e
liderado por Miroslav Brož da Universidade Charles em Praga, República
Tcheca, a equipe detalha como utilizou observações do SPHERE para determinar
com precisão as órbitas das duas luas de Cleópatra. Estudos anteriores já
tinham estimado estas órbitas, mas as novas observações do VLT do ESO
mostraram que as luas não estavam onde os dados antigos tinham previsto.
"Era importante resolver este problema", explica Brož. "Porque se as órbitas
das luas estiverem erradas, tudo estará errado, incluindo a massa de
Cleópatra". Graças às novas observações e a modelos sofisticados, a equipe
conseguiu descrever de forma precisa como é que a gravidade de Cleópatra
influencia os movimentos das suas luas e determinar as órbitas complexas de
AlexHelios e CleoSelene, o que, por sua vez, lhe permitiu calcular a massa
do asteroide: 35% menor do que o estimado anteriormente.
Combinando estes novos valores de massa e volume, os astrônomos puderam
calcular um novo valor para a densidade do asteroide, que se pensava ser
menor do que metade da densidade do ferro. Agora, os cientistas perceberam
que a densidade é menor do que se pensava anteriormente.
A baixa densidade de Cleópatra, mesmo sendo um asteroide possivelmente
metálico, sugere que ele tenha uma estrutura porosa, ou talvez como um
"monte de entulho". Isso mostra que muito provavelmente o asteroide
Cleópatra se formou quando seu material começou a se acumular após um enorme
impacto.
Imagem processada mostrando as luas de Cleópatra.
Créditos: ESO / Vernazza / Marchis et al. / MISTRAL algorithm /
ONERA / CNRS
A estrutura de monte de entulho de Cleópatra e a maneira como ele gira
também dão indicações de como suas duas luas poderiam ter se formado. O
asteroide gira quase a uma velocidade crítica (que corresponde à velocidade
acima da qual começaria a se desfazer) e por isso até pequenos impactos
podem arrancar parte da sua superfície. Marchis e a sua equipe acreditam que
essas rochas que se soltam facilmente poderiam posteriormente ter formado
AlexHelios e CleoSelene, o que significaria que Cleópatra é literalmente
responsável pelo nascimento das suas luas.
As novas imagens de Cleópatra e os resultados que daí se obtêm apenas foram
possíveis graças a um dos sistemas de ótica adaptativa avançada em uso no
VLT do ESO, situado no deserto chileno do Atacama. A ótica adaptativa ajuda
a corrigir as distorções causadas pela atmosfera terrestre que faz com que
os objetos pareçam desfocados - o mesmo efeito que faz com que as estrelas
"cintilem" quando observadas a partir da Terra. Graças a estas correções, o
SPHERE foi capaz de obter imagens de Cleópatra.
O asteroide, localizado a 200 milhões de quilômetros de distância da Terra
quando na sua posição mais próxima, é bem pequeno no céu. Para se ter uma
ideia, é como observar uma bola de golfe a 40 km de distância.
O futuro Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, com os seus sistemas de
ótica adaptativa avançados, será ideal para obter imagens de asteroides
distantes tais como Cleópatra. "Mal posso esperar para apontar o ELT em
Cleópatra, para vermos se tem mais luas e refinar as suas órbitas de modo a
detectar pequenas variações", comenta Marchis.
Imagens: (capa-ESO) / ESO / M. Kornmesser / Marchis et al / MISTRAL algorithm
/ ONERA / CNRS / G. Hüdepohl
09/09/2021
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Daqui a pouco vão dizer que faz parte da coxa daquele osso-Oumumunama-sei lá o que, veio há dois anos atrás e deu um show de piruetas axiais no Sistema Solar...e tem gente que vai unir esses dois pauzinhos e fazer suposições mirabolantes sobre isso tudo.
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