Eles são inexplicáveis, mas podem estar ligados com o buraco negro
supermassivo Sagittarius A*
Imagens feitas a partir do Observatório de Radioastronomia da África do Sul
(SARAO), que levaram mais de três anos para serem feitas, revelam o
núcleo da Via Láctea como nunca vimos antes. E uma das facetas mais
intrigantes do anúncio foi de uma população de
"fios misteriosos" no coração da Via Láctea.
A Northwestern University divulgou mais informações sobre esses
fios estranhos. Já conhecemos esses fios desde a década de 1980,
porém, a nova imagem mostra que há uma enorme população de fios, 10 vezes
maior do que se pensava.
Alguns desses fios misteriosos se estendem por até 150 anos-luz de
comprimento. Às vezes eles ocorrem em grupos, ou em pares. Às vezes se
cruzam, e às vezes se curvam. Mas a pergunta é: o que eles são?
Fios Misteriosos da Via Láctea
Os astrônomos nunca esperavam encontrar esses fios, e nunca os vimos com
tanta abundância e detalhes. Os astrônomos descartaram as supernovas como
fonte dos filamentos estranhos, que são provavelmente de natureza
magnética. Eles acham que esses filamentos magnéticos podem ter algo
a ver com o buraco negro supermassivo central da Via Láctea - Sagittarius A*.
Imagem em mosaico feita pelo radiotelescópio MeerKAT da África do
Sul, que registrou os fios misteriosos na região central da Via Láctea.
Essa área abrange o equivalente a 30 Luas Cheias no céu.
Créditos: I Heywood / SARAO
Esse monstro de 4 milhões de massas solares que abriga o núcleo da nossa
Galáxia pode estar relacionado com os estranhos fios observados. Outra
hipótese seria das bolhas emissoras de rádio, também descobertas pela
Universidade Northwestern em setembro de 2019.
Mesmo registro da imagem superior que mostra os fios misteriosos no centro
da Via Láctea porém,
com legendas de estruturas conhecidas.
Créditos: Northwestern / SARAO / Oxford
Os pesquisadores acreditam que esses fios misteriosos são compostos por
elétrons de raios cósmicos que giram pelo campo magnético próximo à
velocidade da luz. Mas isso é apenas uma hipótese. A origem dos fios
permanecem um grande mistério.
O novo estudo foi aceito para publicação no periódico The Astrophysical
Journal Letters.
Antigos habitantes da Via Láctea
O astrofísico Farhad Yusef-Zadeh, da Universidade Northwestern, avistou os
primeiros fios em 1984. "Há muito tempo estudamos filamentos individuais.
Apenas examinar alguns filamentos torna difícil tirar qualquer conclusão
real sobre o que são e de onde vieram", disse ele. "Agora, finalmente vemos
o quadro geral – uma visão panorâmica repleta de uma abundância de
filamentos. Este é um divisor de águas para aprofundar nossa compreensão
dessas estruturas."
Esta é a primeira vez que conseguimos estudar as características dos
filamentos. Ao estudar suas estatísticas, podemos aprender mais sobre
as propriedades dessas fontes incomuns.
Imagem aproximada dos filamentos misteriosos.
Créditos: Northwestern / SARAO / Oxford
Se você fosse de outro planeta, por exemplo, e encontrasse uma pessoa muito
alta na Terra, você poderia supor que todas as pessoas são altas. Mas se
você fizer estatísticas em uma população de pessoas, poderá encontrar a
altura média.
É exatamente isso que estamos fazendo. Podemos encontrar a força dos campos
magnéticos, seus comprimentos, suas orientações e o espectro de radiação.
Eles estão tomando conta
A nova imagem do Observatório SARAO do coração da Via Láctea exigiu
200 horas do radiotelescópio MeerKAT na África do Sul. Os pesquisadores
montaram um mosaico de 20 observações separadas de diferentes seções do céu
mostrando o centro da Via Láctea, que fica a cerca de 25.000 anos-luz
da Terra. O astrofísico da Universidade de Oxford, Ian Heywood, liderou a
equipe que criou a nova imagem de rádio. Ela mostra muito mais do que apenas
esses fios. A imagem mostra vários fenômenos, incluindo estrelas em erupção,
berçários estelares e novos remanescentes de supernovas.
Imagem aproximada dos filamentos misteriosos.
Créditos: Northwestern / SARAO / Oxford
O que pode ser?
Em seu último artigo, Yusef-Zadeh e seus colegas exploraram as diversas
respostas que poderiam elucidar o
mistério desses estranhos filamentos. De acordo com eles, o mais
provável é que os estranhos fios estejam relacionados à atividade
passada do buraco negro supermassivo central da Via Láctea, em vez de
explosões de supernovas.
Continua um mistério
Yusef-Zadeh confessa ter ficado muito intrigado com a forma como os
filamentos são estruturados. Os filamentos dentro dos aglomerados são
separados uns dos outros a distâncias perfeitamente iguais – aproximadamente
a distância equivalente entre a Terra e o Sol.
Imagem aproximada dos filamentos misteriosos.
Créditos: Northwestern / SARAO / Oxford
Yusef-Zadeh e sua equipe também não sabem se os filamentos se movem ou mudam
ao longo do tempo, ou como os elétrons são acelerados em velocidades tão
incríveis. "Uma ideia é que existem algumas fontes no final desses fios que
estão acelerando essas partículas.
Os pesquisadores estão atualmente identificando e catalogando cada um dos
filamento com detalhes que incluem ângulo, curva, campo magnético, espectro
e intensidade de cada filamento. Isso será publicado em um estudo
futuro.
Imagens: (capa-SARAO) / I Heywood / SARAO / Northwestern / Oxford /
divulgação
09/02/2022
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