James Webb pode ter feito uma descoberta sem precedentes - e isso pode
significar muito mais do que parece
Ao observar o trânsito do exoplaneta GJ 486 b, o Telescópio Espacial
James Webb detectou uma assinatura de água que pode significar a
presença de uma atmosfera parecida com a da Terra. Já descobrimos
exoplanetas com atmosfera, porém, se confirmado, essa seria a primeira vez
que a descoberta de atmosfera se dá em um exoplaneta rochoso tipo
Super-Terra, e pode significar muito mais do que parece - um verdadeiro
divisor de águas na busca por mundos que podem abrigar vida.
O exoplaneta GJ 486 b orbita uma estrela anã vermelha a uma distância
de 26 anos-luz da Terra, na constelação de Virgem.
Com 3x a massa da Terra e apenas 1,3x seu diâmetro, trata-se de um
exoplaneta rochoso e denso. Ele leva 1,5 dias terrestres para completar uma
volta em torno de sua estrela, e de acordo com os astrônomos, provavelmente
possui uma órbita sincroniza - com um lado eternamente virado para a
estrela, e outro mergulhado numa escuridão sem fim.
Encontrar um exoplaneta rochoso e com atmosfera orbitando uma anã
vermelha é muito mais fácil. Na verdade, encontrar qualquer coisa em torno
das anãs vermelhas pode ser mais comum do que em torno de qualquer outra
estrela, simplesmente porque elas compõem 75% da população de estrelas da
Via Láctea - 150 bilhões das 200 bilhões de estrelas que existem aqui, são
anãs vermelhas.
Utilizando o espectrógrafo NIRSpec (que observa o Universo em um nível de
onda próximo do infravermelho), os astrônomos observaram 2 trânsitos do
exoplaneta GJ 486 b. Cada trânsito levou cerca de 1 hora.
A luz da estrela hospedeira que passa pela possível
atmosfera de seu exoplaneta pode revelar sua assinatura química e sua
composição. O que se viu? Vapor de água. Foram utilizados 3 métodos,
e todos mostraram o mesmo resultado.
Espectro com assinatura de vapor de água em observação de trânsito do
exoplaneta GJ 486 b.
A cor azul representa o que é esperado de uma assinatura de água em
atmosfera de exoplaneta.
A cor amarelo reprsenta o esperado de uma assinatura de água emitida pela
própria estrela.
Em branco temos o que James Webb observou.
Créditos: NASA / JWST / divulgação
Porém, a assinatura de vapor de água pode ter sido emitida pela estrela, e
não pelo planeta, e isso já aconteceu antes.
As manchas estelares (que aqui no nosso Sol são chamadas de manchas
solares), são regiões frias que por vezes, podem emitir
assinatura de vapor de água. Infelizmente, novas observações são
necessárias para descartar essa hipótese.
A chance de existir atmosfera em GJ 486 b é intrigante, afinal,
estamos falando de um mundo rochoso que está muito próximo de sua estrela,
fora da zona habitável, e que pode ter uma temperatura de superfície
de 430°C.
Se sua atmosfera rica em vapor de água for confirmada, significa que
existe vulcanismo ativo, pois a proximidade com sua estrela faria com que
sua atmosfera fosse soprada e evaporada. Apenas o vulcanismo poderia estar
"alimentando" e "renovando" tal atmosfera. E se existe vulcanismo para
sustentar essa suposta atmosfera, existe núcleo ativo, portanto, campo
magnético. Isso representaria um local onde a vida realmente poderia existir
- num mundo fora da zona habitável!
Para descobrir se a atmosfera em GJ 486 b realmente existe, novas
observações devem ser feitas utilizando outros instrumentos científicos do
James Webb, como por exemplo, o MIRI (Mid Infrared Instrument). A ideia é
observar as faces diurna e noturna do exoplaneta em busca de pontos de
calor. Se existe atmosfera espessa, o calor do lado diurno pode ser
dissipado para o lado noturno.
Em breve poderemos ter novas informações e quem sabe, a
confirmação de atmosfera em GJ 486 b - estamos super ansiosos para
isso!
Imagens: (capa-ilustração/NASA) / NASA / JWST / divulgação
02/05/2023
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Se tiver mesmo água deve ser um planeta com uma única calota polar gigante ocupando um hemisfério inteiro na escuridão, o outro hemisfério deve ser como uma panela de vapor gigante. Deve ser um lugar adorável para viver.
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