Utilizando o observatório IceCube os cientistas conseguiram mapear a emissão
de neutrinos da nossa Galáxia
Observar o Universo através da luz visível, apesar de magnífico, podemos
dizer que é uma visão limitada. Dentro de todo o espectro magnético, os
nossos olhos conseguem enxergar apenas uma pequena faixa chamada luz
visível. E para conhecer o Universo de outras formas, criamos mecanismos
para observá-lo através de rádio, raios-x, raios gama, etc...
Mas existe uma outra partícula que não é de radiação, mas sim de matéria,
que não conseguimos enxergar e nem detectar (pelo menos, não de forma
fácil). Essa partícula chamada Neutrino foi apelidada de "partícula
fantasma" por vários motivos: ela está por toda parte, viaja de forma
rápida, atravessa a matéria sem interagir com ela, e não pode ser detectada
de forma fácil.
Mas agora, utilizando o Observatório The IceCube, os cientistas
conseguiram não apenas detectar os neutrinos como também criar um
mapa de "partículas fantasmas" da nossa Galáxia, a Via Láctea.
Mapa da Via Láctea na luz visível e através dos neutrinos (sobreposto em
azul).
Créditos: NSF / IceCube
Isso só foi possível graças ao observatório The IceCube. Esse observatório é
basicamente um cubo gigantesco de gelo glacial da Antártica, com uma
dimensão de 1 km cúbico.
O detalhe é que, raramente (muito raramente)
o neutrino vai interagir com alguma matéria. Quando isso acontece, um flash de luz é liberado.
Instalando detectores de neutrinos (que conseguem captar esse flash
de luz minúsculo que dura milésimos de segundo) por toda a extensão desse
cubo de gelo, os cientistas conseguiram não apenas detectar 60.000
interações de neutrinos com o cubo de gelo, mas ainda detectar um certo
rastro que eles deixavam.
Com ajuda de Inteligência Artificial e Machine Learning, foi possível traçar
a origem de cada um dos neutrinos que interagiu com a matéria liberando
aquele flash de luz. Com isso,
o primeiro mapa de neutrinos da Via Láctea foi criado.
na imagem superior vemos a Via Láctea através da luz visível,
e na imagem inferior vemos a Via Láctea através do mapeamento dos
neutrinos.
Créditos: NSF / IceCube
"Os neutrinos de alta energia são produzidos em ambientes onde as partículas
são aceleradas a energias extremas. A detecção de neutrinos de alta energia
da Via Láctea aponta para o fato de que os /aceleradores da natureza existem
em nossa própria galáxia," Dr. O'Sullivan, professor do Departamento de
Física e Astronomia da Universidade de Uppsala, na Suécia.
Os
neutrinos de alta energia vêm de locais que liberam muita energia, como o centro das estrelas, as explosões de supernovas, etc...
Estamos, portanto, vendo uma parte invisível do Universo que antes era
impossível. Não observamos apenas através do espectro - agora conseguimos ir
além e ver os verdadeiros "fantasmas" da nossa Galáxia.
Observar o Universo através dos neutrinos abre portas, pois eles
podem revelar locais jamais vistos, o que permite estudar a nossa Galáxia de
uma forma inédita.
Imagens: (capa-NSF) / NSF / IceCube / divulgação
29/06/2023
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