Ter a chance de observar auroras em outras regiões do globo, como no Brasil e
na África, é algo surpreendente e real!
A
Anomalia Magnética do Atlântico Sul permite que auroras aconteçam no
Brasil, na América do Sul e na África, além de outras regiões do globo. Com o
aumento da atividade solar e das tempestades solares, a atividade de aurora
não polar deve aumentar, e com isso, cada vez mais, permitir a
visibilidade de auroras no Brasil - bem como auroras em outras partes
do globo como sul e oeste da África e toda a América do Sul.
O campo magnético da Terra não é perfeito, e além de ser mais fraco nas
regiões polares (onde temos um verdadeiro espetáculo de luzes no céu com as
auroras boreais e austrais), existe uma região localizada exatamente acima
da América do Sul, sobretudo do Brasil, onde o campo magnético da Terra é
mais fraco - a chamada Anomalia Magnética do Atlântico Sul -
SAA na sigla em inglês ou simplesmente
Anomalia do Atlântico Sul. Com isso, os efeitos de uma tempestade solar forte ou severa podem
desencadear exibições de auroras no Brasil - as chamadas "auroras não polares" ou "auroras equatoriais".
Para se ter uma ideia, satélites têm seus componentes principais e mais
sensíveis desligados quando passam pela Anomalia do Atlântico Sul e
os astronautas nunca podem fazer caminhadas espaciais quando a Estação
Espacial está sobre essa região.
As auroras acontecem quando partículas carregadas do Sol atingem o
campo magnético da Terra. Grande parte é rebatida, porém uma parte fica
presa nas linhas do campo magnético da Terra.
Quando isso chega em nossa atmosfera, os gases são aquecidos e liberam
energia em forma de luz. As auroras verdes e vermelhas acontecem
quando as partículas energizadas do Sol atingem uma altitude de 200 km. Já
as auroras azuis e roxas ocorrem apenas em tempestades solares mais
intensas, quando as partículas energizadas atingem altitude de apenas 100
km.
A Anomalia Magnética do Atlântico Sul foi descoberta em 1958, e seu
tamanho só vem aumentando a cada ano. A falta de registros se deve ao fato
de que seu tamanho anteriormente não era tão grande; pela falta de
observações especializadas em Terra e também porque os satélites quando
passam pela região sofrem com interferências (justamente por conta da
anomalia). Além disso, diferente das regiões polares, a
possibilidade de observar auroras no Brasil, por exemplo, depende de
tempestades solares muito mais intensas.
O estudo foi publicado na National Science Review, Oxford Academic, e foi
liderado pelos cientistas Fei He, Yong Wei e Weixing Wan. Confira o
link do estudo sobre auroras não polares clicando aqui.
Como e quando observar auroras no Brasil ou em regiões próximas da
Anomalia do Atlântico Sul?
No estudo publicado na National Science Review, podemos ver um registro de
aurora no Havaí em 28 de fevereiro de 2014. Vale ressaltar que, mesmo distante
da Anomalia do Atlântico Sul, foi possível observar as auroras no Havaí
(apesar de não ser nem de longe uma região favorecida pela SAA).
Registro de aurora não polar no Havaí em 28 de fevereiro de 2014.
Créditos: National Science Review / Fei He / Yong Wei / Weixing Wan /
divulgação
Mas vale ressaltar: observar auroras no Brasil não é como observar nas
regiões polares como acontecem com as auroras boreais e auroras austrais.
Apesar do campo magnético ser enfraquecido na região da Anomalia do
Atlântico Sul, ele ainda é mais forte por aqui do que nas regiões polares.
Na figura abaixo podemos notar que apesar do ponto mais fraco do campo
magnético estar sobre a região sudeste do Brasil, a observação das auroras é
favorecida na região do canto direito da anomalia - acima do Oceano
Atlântico.
Anomalia Magnética do Atlântico Sul e visibilidade de auroras não polares.
A linha preta representa a região de anomalia onde o campo magnético é
enfraquecido.
A linha verde representa auroras verdes e vermelhas que ocorrem numa
altitude de 200 km.
A linha roxa representa auroras azuis e roxas que ocorrem numa altitude
de 100 km.
Créditos: National Science Review / Fei He / Yong Wei / Weixing Wan /
divulgação
Os círculos podem ser expandidos ou contraídos dependendo da intensidade
da tempestade solar. Na legenda do gráfico é possível identificar a região
de visibilidade e o tipo de aurora.
No caso das auroras boreais que ocorrem na região polar norte,
observadores devem olhar na direção do horizonte norte para ver as
auroras. Na região da Austrália, por outro lado, observadores devem olhar
na direção sul do horizonte, afinal, as auroras austrais surgem na região
polar sul. Mas quando o assunto são auroras não polares provenientes da
região da Anomalia do Atlântico Sul, o observador deve olhar na direção do
sul do Oceano Atlântico. Com isso, observadores do Brasil devem olhar na
direção do mar - sudeste do céu. Já um observador situado na África do Sul
deve olhar na direção sudoeste (como mostra no gráfico acima).
Não é qualquer tempestade solar
Possivelmente, precisaríamos de uma tempestade solar muito mais intensa,
acima do nível G4, talvez de nível G5. Além disso, possivelmente você
teria grande dificuldade de observação em grandes cidades como São Paulo,
ou em noites de céu com Lua presente. O brilho da Lua dificulta a
observação de eventos de pouco brilho, como é o caso de auroras não
polares.
E pra finalizar, além de exigir uma tempestade solar intensa, noites
escuras e sem Lua, o pico da tempestade geomagnética, ou seja, do impacto
em nossa magnetosfera, deve acontecer no período noturno na região do
Atlântico.
O impacto efetivo de tempestades solares se dá em nossa tecnologia,
interferindo em satélites, transformadores de energia, sistemas de
comunicação, entre outros. Quanto mais intensa é a tempestade solar,
maiores serão os efeitos, que são mais fortes nas regiões polares e em
seguida, na Anomalia do Atlântico Sul. Animais migratórios também sofrem
com tempestades geomagnéticas, e seres humanos também são afetados de
alguma forma a nível inconsciente, apesar de estudos ainda serem
inconclusivos.
Já para a vida em si, não há qualquer risco. Tempestades solares sempre
ocorreram, e aqui estamos nós para contar essa história. Já a nossa
tecnologia, incluindo a nossa rede de internet que atualmente é tão
essencial para a humanidade [veja
Colapso ou Apocalipse da internet para 2024?], é algo relativamente novo, e isso sim, pode ser severamente danificado
sobretudo com tempestades solares extremas, como ocorreu no
Evento de Carrington em 1859, quando telégrafos pegaram fogo ao redor do mundo todo, e as pessoas
tomavam choque ao encostar em maçanetas.
O ciclo solar 25 tem seu pico esperado para 2024. Com isso, podemos
esperar uma atividade solar intensa nos próximos anos, mesmo após 2024.
Até o Sol se acalmar, leva um tempo. Seguimos de olho!
Imagens: (capa-ilustração) / National Science Review / Fei He / Yong Wei /
Weixing Wan / divulgação
05/12/2023
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Olá Richard! Gostei do post sobre tempestades solares extremas. Queria saber se já fizeste uma comparação na linha de tempo desses eventos com os picos aproximados daos últimos ciclos solares. Tendo os registros fica fàcil mostrar num gráfico.
ResponderExcluirEi Richard! Lydia Aguiar aqui da Chapada dos Veadeiros.
ResponderExcluirHoje vi alguns registros do que parecia aurora lilás aqui no final do dia!! f
Onde eu posso reportar?
Richard, fui me inscrever para receber suas atualizações pelo site e deu Erro 400. (The server cannot process the request because it is malformed. It should not be retried. )
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